Seja bem-vindo. Hoje é

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

TERNURA


TERNURA

Com as estrelas que deixei cair
de minhas asas de borboleta-transparente,
pedi à minha fada-madrinha
que bordasse, com linhas do infinito,
uma noite somente para meu amor.

E com as flores que deixei cair
De minhas folhas de violeta amadurecida,

Que bordasse, com linhas de eternidade,
Um céu branco e lilás para ser o dia da noite do meu amor.

Oswaldo Antônio Begiato

SINGULAR


SINGULAR

Dou-te uma rosa,
Primeira,
Com o espinho consagrando
O sangue
Que de minha mão roubou.

Dou-te meu amor,
Primeiro,
Com a saudade estrangulando
O ângulo
Que de tua alma roubei.

Oswaldo Antônio Begiato

CONDORISMO


CONDORISMO

Ah, quem me dera
voar como a nuvem no ar,
ar de primavera!

Delores Pires

MARESIA


MARESIA

O dia fugindo.
No ar um cheiro de mar.
A noite vem vindo!

Delores Pires

MEMÓRIA


MEMÓRIA

Na longíqua tarde
ledas conversas de seda
saudades saudades...

Delores Pires

INTINERÁRIO


INTINERÁRIO

Baila a folha no ar.
Descreve um círculo leve
no chão vai pousar

Delores Pires

FRAGMENTOS


FRAGMENTOS

Fragmentos de estrelas...
Dançam os jogos de luz
no escuro da noite.

Delores Pires

DISTRAÇÃO


DISTRAÇÃO

Distraída a lua
abraça o casal que passa
no canto da rua.

Delores Pires

ESCOLTA


ESCOLTA

Ao cair da noite
escoltando pirilampos
passeiam estrelas...

Delores Pires

INVERNO



INVERNO

Tremendo de frio
o cãozinho enovelado
espia a paisagem.

Delores Pires

OUTONO



OUTONO

Imersa em neblina
a cidade se reveste
de um tom nostalgia.

Delores Pires

PRIMAVERA


PRIMAVERA

Ouro flutuando
pelos ramos desfolhados
nos ipês floridos.

Delores Pires

SOLITUDE


SOLITUDE

Silente, à tardinha,
desliza ao sabor da brisa
gaivota sozinha.

Delores Pires
"O Livro dos Haicais"

SIMPLICIDADE


SIMPLICIDADE

Singela e formosa
Num torvelinho de espinho
Desabrocha a rosa.

Delores Pires
"O Livro dos Haicais"

ACENTUAÇÃO


ACENTUAÇÃO

Em torno de si
o guarda-chuva coloca
o pingo nos ii.

Delores Pires
"O Livro dos Haicais"

INFÂNCIA


INFÂNCIA

Eu fui meu
como o espaço
era do pássaro.

Eu me soltava
em cantos e plumas
pelos campos da manhã.

Eu brincava comigo:
eu era eu
e o meu amigo.

Eu me falava baixo
para não espantar
o meu silêncio.

Eu era pequeno
e imenso.

Wilson Pereira

APRESENTAÇÃO


APRESENTAÇÃO

Vou de-ser
do que sou

sub´ir
ao invento

sub´ir
ao invento

na orla do tempo
além de mim,

feito canto
eu me apresento

menino sem fim.

Wilson Pereira

NOSSO CASO


NOSSO CASO

O nosso caso, amada,
teve seu preço:

a cama desarrumada
e os sonhos pelo avesso.

Wilson Pereira

À QUINTANA


À QUINTANA

Uma estrela sozinha
no fim da madrugada
reflete a minha vida
tão pequenina
e lume e nada.

Wilson Pereira

sábado, 25 de setembro de 2010

“Imêmore”

Ah! O aroma das
laranjeiras em flor...
Me remete a tempos imemoriais,
tão antigos quanto a palavra
imemorial...

Quando tudo era grande,
fantástico e misterioso.
Hoje o que era grande
ficou pequeno,
o que era fantástico
virou banal
e o que era misterioso
perdeu o encanto.

A primavera
que está chegando
é apenas a estação do ano
ou é também a
estação da alma?
Não importa.
O canto do sabiá me leva
novamente
a tempos imemoriais!


Autoria desconhecida
-Portugal-1949-

POETINHA

POETINHA

Vinícius de Moraes,
que falta nos fazes!

Como um pai
que viajou
para muito longe

e não escreve mais.


Wilson Pereira

DEUS ESTEJA NESTA CASA

DEUS ESTEJA NESTA CASA

A singela inscrição:
fé, certeza, certidão.

Deus é hóspede
dos pobres.


Wilson Pereira

NOSSO CASO

NOSSO CASO

O nosso caso, amada,
teve seu preço:

a cama desarrumada
e os sonhos pelo avesso.


Wilson Pereira

FAGULHAS

FAGULHAS

Vou incinerar este dia
com o fogo do crepúsculo

e depois
com sôfregos músculos
vou escavar sob as cinzas
um sonho
e outros aindas.


Wilson Pereira

A CAVALGADA

A CAVALGADA


A lua banha a solitária estrada...
Silêncio!... Mas além, confuso e brando,
O som longínquo vem-se aproximando
Do galopar de estranha cavalgada.

São fidalgos que voltam da caçada;
Vêm alegres, vêm rindo, vêm cantando.
E as trompas a soar vão agitando
O remanso da noite embalsamada...

E o bosque estala, move-se, estremece...
Da cavalgada o estrépito que aumenta
Perde-se após no centro da montanha...

E o silêncio outra vez soturno desce...
E límpida, sem mácula, alvacenta
A lua a estrada solitária banha...

Raimundo Correia

Acredito que...

“... E de novo acredito que nada do que é importante se perde verdadeiramente.
Apenas nos iludimos, julgando ser donos das coisas, dos instantes e dos outros.
Comigo caminham todos os mortos que amei, todos os amigos que se afastaram, todos os dias felizes que se apagaram.
Não perdi nada, apenas a ilusão de que tudo podia ser meu para sempre."

Excerto de 'De noite'
- Miguel Sousa Tavares
em “Não te deixarei morrer David Crockett"