Seja bem-vindo. Hoje é

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

ENTRE LUZ & SOMBRAS


ENTRE LUZ & SOMBRAS

Coloco-me de costas para o sol nascente
a sombra me vai só na via da lembrança
e o meu amor vai só na alma indiferente
jacente na canção remota da esperança.

Lembro de sonhos do futuro no presente
de reviver amores que o esperar alcança
das rosas fugidias de um jardim ausente
a despeito dos amanhãs em abundância.

A noite é feita de uma luz remanescente
a beirada da aurora é que me recomeça
pela estrada de volta para o meu futuro.

Vaga-me a alma pelos restos do poente
chegar é só o sonho para quem começa
e começar é conseguir andar no escuro.

Afonso Estebanez

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010


MARANHÃO SOBRINHO

(1879-1915)

Fundador com Antonio Lobo, I. Xavier de Carvalho e Corrêa de Araújo, entre outros, do movimento de renovação literária denominado Os Novos Atenienses, que em fins do século XIX e início do século XX sacudiu o meio intelectual de São Luís com idéias e conceitos vanguardistas, Maranhão Sobrinho foi o mais singular poeta de sua geração.

Boêmio, por vezes até mesmo desbragadamente ébrio, José Américo Augusto Olimpio Cavalcanti dos Albuquerques Maranhão Sobrinho* nasceu em Barra do Corda, interior do Estado, em 25 de dezembro de 1879, e morreu ainda jovem, em Manaus, no mesmo dia em que completava 36 anos. Nesse breve espaço de tempo, encarnou como poucos a figura trágica do poeta dominado por suas angústias existenciais - viveu rápido e intensamente: suas dores, reais ou imaginadas, lançaram-no na sôfrega busca pelo prazer e no caminho da autodestruição.

Mas se ele era essa espécie de romântico trágico na vida pessoal, sua poesia está em outro patamar. Simbolista ortodoxo, foi um visionário capaz de construir imagens perturbadoras em versos admiravelmente bem urdidos, sensualmente mórbidos, onde por trás de cada palavra flutua, não muito distante, a imensa sombra de um amargo pessimismo com o mundo e com as pessoas.

Sem dispor de recursos financeiros, publicou seus trabalhos com grande dificuldade. Foram ao todo três livros editados de modo bastante precário, com circulação restrita à província. Além disso, apenas colaborações esparsas, ainda que numerosas, em revistas e jornais de São Luís. Muito embora sua obra ainda não tenha sido objeto de um estudo mais aprofundado, a crítica nela destaca uma bem assimilada influência de Baudelaire e Verlaine, considerando-o ao mesmo tempo um dos luminares do movimento simbolista no Brasil - quase no mesmo nível ocupado por Cruz e Souza e Alfonsus Guimaraes, expoentes máximos da escola.

De qualquer sorte, coube a Maranhão Sobrinho ser um poeta representativo do período de transição da literatura maranhense - teve o talento amplamente reconhecido, tanto pelo público quanto por seus pares, foi um dos fundadores da Academia Maranhense de Letras, mas sofreu estilisticamente na difícil tarefa de buscar uma síntese convincente entre o Romantismo ainda em voga, o Parnasianismo e o Simbolismo. Reflexos dessa luta estéril são visíveis em seus poemas. Houvesse vivido mais alguns anos, talvez sua obra conseguisse escapar dessa armadilha literária, atingindo novas e inesperadas dimensões.

Ainda assim, figura em destaque no Panteon dos poetas maranhenses de todos os tempos.


Poesia

    * 1908 - Papéis Velhos… Roídos pela Traça do Símbolo
    * 1909 - Estatuetas
    * 1911 - Vitórias-Régias

Mártir


Das cinco chagas de pesar, que exangue,
Trago no triste coração magoado,
Descem rosários de rubi de sangue
Como do corpo do Crucificado...

Pende-me a fronte sobre o peito, langue,
De infinitas Traições alanceado...
E, na noite da Mágoa, expiro exangue
Na Cruz de Pedra da Paixão pregado...

Subi, de joelhos, expirando, o adusto
Desfiladeiro enorme do Calvário...
Sob o madeiro da Saudade, a custo!

Sem consumar meus sonhos adorados,
Oiço, no meio do Martírio vário,
O chocalhar sacrílego dos Dados...


Maranhão Sobrinho

ROSAS, ROSAS, ROSAS...


Rosas no céu, rosas nas cercas, rosas
nos teus ombros e rosas no seu rosto,
rosas em tudo, e há chagas veludosas
de rosas cor de rosa no sol-posto...

Florescem rosas de ais, maravilhosas
nas róseas fontes, rosas no recosto
dos róseos montes se debruçam! Rosas
em Abril, em Maio, em Junho, em Julho e em Agosto!

Se há noivados, há rosas nas redomas
dos altares e há rosas invisíveis
difundindo, no azul, róseos aromas!

Se morre um anjo, às brancas nebulosas,
leva, entre as mãos de rosas marcessíveis,
rosas, fechado num caixão de rosas...



Maranhão Sobrinho

Evocações



Saudade! O sol a se esconder. O gado
descendo a serra, longe, entre mugidos
tristes e a voz do córrego anilado
enchendo a tarde branca de gemidos!

Saudade! Eu pequenino. O olhar sagrado
de minha irmã contando aos meus ouvidos
a história de algum Rei Moiro encantado
à voz das rolas dos sertões perdidos...

O velho alpendre à mansa claridade
do luar, como em sonho, despontando
entre as saudosas árvores! Saudade...

A mãe-da-lua as queixas desfiando
e minha mãe, branquinha, de piedade,
diante do altar do Bom-Jesus rezando


Maranhão Sobrinho

Interlunar


Entre nuvens cruéis de púrpura e gerânio,
rubro como, de sangue, um hoplita messênio
o Sol, vencido, desce o planalto de urânio
do ocaso, na mudez de uni recolhido essênio...


Veloz como um corcel, voando num mito hircânio,
tremente, esvai-se a luz no leve oxigênio
da tarde, que me evoca os olhos de Estefânio
Mallarmé, sob a unção da tristeza e do gênio!


O ônix das sombras cresce ao trágico declínio
do dia em que, a lembrar piratas do mar Jônio,
põe, no ocaso, clarões vermelhos de assassínio...


Vem a noite e, lembrando os Montes do Infortúnio,
vara o estranho solar da Morte e do Demônio
com as torres medievais as sombras do Interlúnio...


Maranhão Sobrinho

Soror Teresa



...E um dia as monjas foram dar com ela
morta, da cor de um sonho de noivado,
no silêncio cristão da estreita cela,
lábios nos lábios de um Crucificado...

Somente a luz de uma piedosa vela
ungia, como um óleo derramado,
o aposento tristíssimo de aquela
que morrera num sonho, sem pecado...

Todo o mosteiro encheu-se de tristeza,
e ninguém soube de que dor escrava
morrera a divinal soror Teresa...

Não creio que, de amor, a morte venha,
mas, sei que a vida da soror boiava
dentro dos olhos do Senhor da Penha...


Maranhão Sobrinho
Papéis Velhos...Roídos pela Traça do Símbolo, 1908

O mar


Ouve! O mar, escarpando as rochas, na agonia
Do sol, parece ter na voz humana acento
De dor! Reza, talvez. Vai recolher-se. O dia
Se ajoelha e a tarde, em sonho, abraça o firmamento

Como nós, pode ser que a tristeza e a alegria
O mar sinta também: precisa, em movimento,
Trazer um coração... Quem sabe o que irradia,
No íntimo, em doce e azul recolhimento.

Escuta! Uma onda vem beijar-te os pés. Não a de
Calma os seios rasgar sobre os basaltos. Quero-las
As ondas todas são. Ouve-lhe a voz. Piedade!

O mar leva-me a crer que tem paixões mortais
Em que rolam, brilhando, as lágrimas das pérolas
E palpita, fervendo, o sangue dos corais...


Maranhão Sobrinho
Do livro Vitórias Régias

Rubro

Púrpura cor de Sírios! Cor da guerra,
das flâmulas sangrentas da batalha!
cor que enlouquece, que embriaga e aterra,
derramada na arena ou na muralha!


Cor de gritos! Clarim das cores! Serra
do Emocional que o espírito retalha!
Febéia cor da volúpia sobre a terra
derramada, que grita e que farfalha!


Cor do Sol-Posto! Cor do Inferno! Cor
dos punhais e das lanças, difundida
por toda a terra, como a Luz e o Amor...


...Régia cor dos seus lábios escarlates!
Suprema cor da Morte e cor da Vida
dás-me a visão de auroras e combates...

Maranhão Sobrinho

O GATO



Enquanto mamãe Chiquinha
no quarto o caçula embala,
com os contos da Carochinha,
os dois namoram na sala.

-Tu não te zangas Corinha,
se eu te beijar? Anda…fala!
-Não sei, não, diz-lhe a priminha
e um beijo bem longo estala.

A mãe, que, ao menor ruído,
se assusta, pergunta: -Cora,
que foi isto? e atenta o ouvido.

Diz-lhe a filha que a escutou:
-Não foi nada, não, senhora:
foi o gato que espirrou!

Maranhão Sobrinho

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

A PONTE DE MIRABEAU



Sob a ponte Mirabeau desliza o Sena
E os nossos amores
É bom lembrar, vale a pena,
Que a alegria sucede aos dissabores

A noite vem passo a passo
Os dias se vão eu não passo

As mãos nas mãos estamos face a face
Enquanto passa
Sob a ponte de nossos braços
A onda lenta de um eterno cansaço

A noite vem passo a passo
Os dias se vão eu não passo

O amor se vai como esta água barrenta
O amor se vai
Como a vida é lenta
E como a esperança é violenta

A noite vem passo a passo
Os dias se vão eu não passo

Passam-se os dias passam-se as semanas
Nada do que passou
volta de novo à cena
Sob a ponte Mirabeau desliza o Sena

A noite vem passo a passo
Os dias se vão eu não passo


Guillaume Apollinaire
(Tradução: Ferreira Gullar)

Vendo as Jovens

Aurelio Arteta (Espana)

Madruga. E água vos desnuda alegres
por dentro dos espelhos. Repentinas
partis. E a superfície exerce
profundidade. E salpicais os dias

de movimento, súbito nem leve,
mas pura luz ao longo da retina.
E enquanto sobem músculos ou descem,
visível ave rítmica respira,

regressa, vai, ou cega. Tão verdade
que um fundo de água a apaga. E as esquinas
são anúncios antigos de cidade

pensando-se na noite, que dominas,
real como quem tem só idade
e, de repente, o azul é meio dia.

Fernando Echevarría

VINHAM ROSAS NA BRUMA FLORESCIDA

The New Monet, Rose Hips and Healing Plants

Vinham rosas na bruma florescida
rodear no teu nome a sua ausência.
E a si se coroavam, e tingiam
a apenas sombra de sua transparência.

Coroavam-se a si. Ou no teu nome
a mágoa que vestiam madrugava

até que a bruma dissipasse o bosque
e ambos surgissem só lugar de mágoa.

Mágoa não de antes ou de depois. Presente
sempre actual de cada bruma ou rosa,
relativos ou não no espelho ausente.

E ausente só porque, se não repousa,
é nome rodopio que, na mente,
embruma a brisa em que se aviva a rosa.


 Fernando Echevarría

VÉNUS

Cabanel, The Birth of Venus

Sublevava-se no verbo uma brancura
onde sucumbem subtis
trampolins de alvaiade com que a espuma
se exalta na penumbra e nos quadris.

E impugna o púbis. O assusta quase
no aperto da sua timidez
batida pelo mar feliz da frase
que se ergue do triunfo do que fez

com Vénus firme a resistir ao meio
da onda aonde se debate a trança.
E onde o desafio do seu seio

emerge, enquanto o justo ritmo avança
na só brancura duma espuma escrita
que ambas instrui e que uma só visita.


Fernando Echevarría

É DOCE ENVELHECER



É doce envelhecer quando o que avança é ir recrudescendo a inteligência. Entra-lhe o mundo no vagar. Decanta o seu volume inteiro de contenda. Transporta-se. E entrega na palavra a inteligível criação. Entrega o desenvolvimento. O pulso. A trama que ajustam sua refundação aberta. E a doçura de se ir vendo alarga o envelhecimento a quase ciência. Uma ciência onde o enigma é alma. E onde o mundo contunde. Insiste. E pesa.


Fernando Echevarría

A CHUVA CONJUGOU-SE COM O VENTO



Chegou o inverno à sua luz de chuva.
Estoirou-a fina. Adelgaçou-lhe o vento
de forma à transparência vir à súbita
ampliação de um tempo
propício ao estudo. E a quem ausculta
o imo do que vai aparecendo.
Ou que se entrega à paciência arguta
da nostalgia. Do inverno
e desse especular ritmo que puxa
o em si de cada coisa para o lugar de o vermos

Fernando Echevarría

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Quando surges na noite...

Quando surges na noite...


Quando surges na noite, quando avanças
porque o som do batuque por ti chama,
teu corpo negro é chama que me inflama,
quando surges na noite, quando danças...

Quando danças, cantando as esperanças
e os desesperos todos de quem ama,
teu corpo negro é fogo que derrama
febre nas almas que repousam mansas.

Tu vens dançando (tudo em mim se agita)
e vens cantando (tudo em mim já grita),
quando surges em noite de queimada...

Depois, somos os dois, no mesmo abraço,
num batuque só nosso, num compasso
mais febril do que toda a batucada!



Geraldo Bessa Víctor

O Feitiço do Batuque


Sinto o som do batuque nos meus ossos,
o ritmo do batuque no meu sangue.
É a voz da marimba e do quissange,
que vibra e plange dentro de minh'alma,
- e meus sonhos, já mortos, já destroços,
ressuscitam, povoando a noite calma.

Tenho na minha voz ardente o grito
desses gritos febris das batucadas,
nas noites em que o fogo das queimadas
parece caminhar para o infinito...
E meus versos são feitos desse canto,
que o vento vai cantando, em riso e pranto,
quanto o batuque avança desflorando
o silêncio de virgens madrugadas.

Músicos negros, colossos,
e negras bailarinas, sensuais,
tocam e dançam, cantando,
agitando meus impetos carnais.

O batuque ressoa-se nos ossos,
seu ritmo louco no meu sangue vibra,
vibra-me nas entranhas, fibra a fibra,
sinto em mim o batuque penetrando
- e já sou possuido de magia!

A batucada tem feitiço eterno.
O batuque de dor e de alegria,
que sinto no meu ser, dentro de mim,
nunca mais tera fim,
nem mesmo alem do Céu e além do Inferno!


Geraldo Bessa Víctor

O MENINO NEGRO

O MENINO NEGRO

O menino negro não entrou na roda
das crianças brancas - as crianças brancas
que brincavam todas numa roda viva
de canções festivas, gargalhadas francas...

O menino negro não entrou na roda.

E chegou o vento junto das crianças
- e bailou com elas e cantou com elas
as canções e danças das suaves brisas,
as canções e danças das brutais procelas.

O menino negro não entrou na roda.

Pássaros, em bando, voaram chilreando
sobre as cabecinhas lindas dos meninos
e pousaram todos em redor. Por fim,
bailaram seus vôos, cantando seus hinos ...

O menino negro não entrou na roda.

"Venha cá, pretinho, venha cá brincar"
- disse um dos meninos com seu ar feliz.
A mamã, zelosa, logo fez reparo;
o menino branco já não quis, não quis ...

o menino negro não entrou na roda.

O menino negro não entrou na roda
das crianças brancas. Desolado, absorto,
ficou só, parado com olhar cego,
ficou só, calado com voz de morto.


Geraldo Bessa Víctor

Dia de Chuva no Mato

Dia de Chuva no Mato


"Chove
E a trovoada
é um batuque incessante,
uma estranha batucada.

Os raios são setas de fogo
que misteriosamente, em tom de guerra,
espíritos do mal lançam da Altura
para incendiar a Terra.

O vento
Ora violento, ora brando,
o vento é o cazumbi dos cazumbis
- o deus do mar, do rio e da floresta-
que vai cantando e dançando,
em tragicómica festa,
o seu coro de mil vozes,
os seus bailados febris.

As nuvens negras são virgens tontas,
quais almas do outro mundo,
errando como sonâmbulas
pelo céu negro e profundo...
E a chuva, constante e forte,
é o pranto (parece eterno)
dos deuses negros que a Morte
sacrificou no Inferno.


Geraldo Bessa Víctor

As raízes do nosso amor

As raízes do nosso amor

Amo-te porque tudo em ti me fala de África,
duma forma completa e envolvente.
Negra, tão negramente bela e moça,
todo o teu ser me exprime a terra nossa,
em nós presente.

Nos teus olhos eu vejo, como em caleidoscópio,
madrugadas e noites e poentes tropicais,
- visão que me inebria como um ópio,
em magia de místicos duendes,
e me torna encantado. (Perguntaram-me: onde vais?
E não sei onde vou, só sei que tu me prendes...)

A tua voz é, tão perturbadoramente,
a música dolente dos quissanges tangidos
em noite escura e calma,
que vibra nos meus sentidos
e ressoa no fundo da minh'alma.

Quando me beijas sinto que provo ao mesmo tempo
o gosto do caju, da manga e da goiaba,
- sabor que vai da boca até às vísceras
e nunca mais acaba...

O teu corpo, formoso sem disfarce,
com teu andar dengoso, parece que se agita
tal como se estivesse a requebrar-se
nos ritmos da massemba e da rebita.
E sinto que teu corpo, em lírico alvoroço,
me desperta e me convida
para um batuque só nosso,
batuque da nossa vida.

Assim, onde te encontres (seja onde estiveres,
por toda a parte onde o teu vulto fôr),
eu te descubro e elejo entre as mulheres,
ó minha negra belamente preta,
ó minha irmã na cor,
e, de braços abertos para o total amplexo,
sem sombra de complexo,
eu grito do mais fundo da minh'alma de poeta:
- Meu amor! Meu amor!

Geraldo Bessa Víctor

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

The Bush Warbler Idling


The Bush Warbler Idling

Seeping through the haze,
the voice
of the bush warbler --
few people passing,
mountain village in spring.


Saigyo

Winds Of Autumn


Winds Of Autumn

Even in a person
most times indifferent
to things around him
they waken feelings
the first winds of autumn

Saigyo

unbroken gloom.


unbroken gloom.

times when unbroken
gloom is over all our world
over which still
sits the ever brilliant moon
sight of it casts me down more

Saigyo

Thought I was free


Thought I was free


Thought I was free
of passion, so this melancholy
comes as surprise:
a woodcock shoots up from the marsh
where autumn's twilight falls.

Saigyo

There's not a trace of cloud


There's not a trace of cloud

There's not a trace of cloud
Now-and she
Is in my thoughts;
The moon and my heart
Seem to waver.

Saigyo

The Monk Saigyo


The Monk Saigyo


Should I blame the moon
For bringing forth this sadness,
As if it pictured grief?
Lifting up my troubled face,
I regard it through my tears

Saigyo

Sunk in melancholy



Sunk in melancholy


Sunk in melancholy, and
Gazing
Upon the moon: its hue:
Why is it so deeply
Stained with sadness, I wonder

Saigyo

O, how sad



O, how sad

O, how sad!
Why of visitors
Should there be not one?
In melancholy, where I dwell
The wind comes upon the bush-clover leaves.

Saigyo

Not Stopping To Mark The Trail



Not Stopping To Mark The Trail

Not stopping to mark the trail,
let me push even deeper
into the mountain!
Perhaps there's a place
where bad news can never reach me!

Saigyo

limitations gone



limitations gone

limitations gone
since my mind fixed on the moon
clarity and serenity
make something for which
there's no end in sight

Saigyo

In a mountain village



In a mountain village

In a mountain village
at autumn’s end—
that’s where you learn
what sadness means
in the blast of the wintry wind.

Saigyo

How wonderful



How wonderful


How wonderful, that
Her heart
Should show me kindness;
And of all the numberless folk,
Grief should not touch me.

Saigyo

Having Seen Them Long



Having Seen Them Long

Having seen them long,
I hold the flowers so dear
That when they scatter
I find it all the more sad
To bid them my last farewell.

Saigyo

Having drifted apart



Having drifted apart


Having drifted apart,
Why should folk
Despise each other? For
Not known and unknowing
Times there were once before…

Saigyo

As banked clouds



As banked clouds


As banked clouds
are swept apart by the wind,
at dawn the sudden cry
of the first wild geese
winging across the mountains.

Saigyo

moonviewing



moonviewing

Quite the contrary
to what I’d thought, passing clouds
are sometimes simply
the moon’s entertainment,
its lovely decoration.

Saigyo

A Ballade of Burial


A Ballade of Burial

("Saint Praxed's ever was the Church for peace")


If down here I chance to die,
Solemnly I beg you take
All that is left of "I"
To the Hills for old sake's sake,
Pack me very thoroughly
In the ice that used to slake
Pegs I drank when I was dry --
This observe for old sake's sake.

To the railway station hie,
There a single ticket take
For Umballa -- goods-train -- I
Shall not mind delay or shake.
I shall rest contentedly
Spite of clamour coolies make;
Thus in state and dignity
Send me up for old sake's sake.

Next the sleepy Babu wake,
Book a Kalka van "for four."
Few, I think, will care to make
Journeys with me any more
As they used to do of yore.
I shall need a "special" brake --
'Thing I never took before --
Get me one for old sake's sake.

After that -- arrangements make.
No hotel will take me in,
And a bullock's back would break
'Neath the teak and leaden skin
Tonga-ropes are frail and thin,
Or, did I a back-seat take,
In a tonga I might spin, --
Do your best for old sake's sake.

After that -- your work is done.
Recollect a Padre must
Mourn the dear departed one --
Throw the ashes and the dust.
Don't go down at once. I trust
You will find excuse to "snake
Three days' casual on the bust."
Get your fun for old sake's sake.

I could never stand the Plains.
Think of blazing June and May
Think of those September rains
Yearly till the Judgment Day!
I should never rest in peace,
I should sweat and lie awake.
Rail me then, on my decease,
To the Hills for old sake's sake.



Rudyard Kipling

An Astrologer's Song


An Astrologer's Song

To the Heavens above us
O look and behold
The Planets that love us
All harnessed in gold!
What chariots, what horses
Against us shall bide
While the Stars in their courses
Do fight on our side?

All thought, all desires,
That are under the sun,
Are one with their fires,
As we also are one:
All matter, all spirit,
All fashion, all frame,
Receive and inherit
Their strength from the same.

Oh, man that deniest
All power save thine own,
Their power in the highest
Is mightily shown.
Not less in the lowest
That power is made clear.
(Oh, man, if thou knowest,
What treasure is here!)

Earth quakes in her throes
And we wonder for why!
But the blind planet knows
When her ruler is nigh;
And, attuned since Creation
To perfect accord,
She thrills in her station
And yearns to her Lord.

The waters have risen,
The springs are unbound--
The floods break their prison,
And ravin around.
No rampart withstands 'em,
Their fury will last,
Till the Sign that commands 'em
Sinks low or swings past.
[GRAY][B]


Through abysses unproven
O'er gulfs beyond thought,
Our portion is woven,
Our burden is brought.
Yet They that prepare it,
Whose Nature we share,
Make us who must bear it
Well able to bear.

Though terrors o'ertake us
We'll not be afraid.
No Power can unmake us
Save that which has made:
Nor yet beyond reason
Or hope shall we fall--
All things have their season,
And Mercy crowns all!

Then, doubt not, ye fearful--
The Eternal is King--
Up, heart, and be cheerful,
And lustily sing:--
What chariots, what horses
Against us shall bide
While the Stars in their courses
Do fight on our side?


Rudyard Kipling

The Appeal


The Appeal

It I have given you delight
By aught that I have done,
Let me lie quiet in that night
Which shall be yours anon:

And for the little, little, span
The dead are born in mind,
Seek not to question other than
The books I leave behind.



Rudyard Kipling

The Answer


The Answer

A Rose, in tatters on the garden path,
Cried out to God and murmured 'gainst His Wrath,
Because a sudden wind at twilight's hush
Had snapped her stem alone of all the bush.
And God, Who hears both sun-dried dust and sun,
Had pity, whispering to that luckless one,
"Sister, in that thou sayest We did not well --
What voices heardst thou when thy petals fell?"
And the Rose answered, "In that evil hour
A voice said, `Father, wherefore falls the flower?
For lo, the very gossamers are still.'
And a voice answered, `Son, by Allah's will!'"

Then softly as a rain-mist on the sward,
Came to the Rose the Answer of the Lord:
"Sister, before We smote the Dark in twain,
Ere yet the stars saw one another plain,
Time, Tide, and Space, We bound unto the task
That thou shouldst fall, and such an one should ask."
Whereat the withered flower, all content,
Died as they die whose days are innocent;
While he who questioned why the flower fell
Caught hold of God and saved his soul from Hell.



Rudyard Kipling

An American

An American
1894

The American Spirit speaks:

If the Led Striker call it a strike,
Or the papers call it a war,
They know not much what I am like,
Nor what he is, My Avatar.

Through many roads, by me possessed,
He shambles forth in cosmic guise;
He is the Jester and the Jest,
And he the Text himself applies.

The Celt is in his heart and hand,
The Gaul is in his brain and nerve;
Where, cosmopolitanly planned,
He guards the Redskin's dry reserve

His easy unswept hearth he lends
From Labrador to Guadeloupe;
Till, elbowed out by sloven friends,
He camps, at sufferance, on the stoop.

Calm-eyed he scoffs at Sword and Crown,
Or, panic-blinded, stabs and slays:
Blatant he bids the world bow down,
Or cringing begs a crust of praise;

Or, sombre-drunk, at mine and mart,
He dubs his dreary brethren Kings.
His hands are black with blood -- his heart
Leaps, as a babe's, at little things.

But, through the shift of mood and mood,
Mine ancient humour saves him whole --
The cynic devil in his blood
That bids him mock his hurrying soul;

That bids him flout the Law he makes,
That bids him make the Law he flouts,
Till, dazed by many doubts, he wakes
The drumming guns that -- have no doubts;

That checks him foolish-hot and fond,
That chuckles through his deepest ire,
That gilds the slough of his despond
But dims the goal of his desire;
[GRAY][B]


Inopportune, shrill-accented,
The acrid Asiatic mirth
That leaves him, careless 'mid his dead,
The scandal of the elder earth.

How shall he clear himself, how reach
Your bar or weighed defence prefer --
A brother hedged with alien speech
And lacking all interpreter?

Which knowledge vexes him a space;
But, while Reproof around him rings,
He turns a keen untroubled face
Home, to the instant need of things.

Enslaved, illogical, elate,
He greets the embarrassed Gods, nor fears
To shake the iron hand of Fate
Or match with Destiny for beers.

Lo, imperturbable he rules,
Unkempt, desreputable, vast --
And, in the teeth of all the schools,
I -- I shall save him at the last!



Rudyard Kipling


quinta-feira, 18 de novembro de 2010

HISTÓRIA

HISTÓRIA

A folha ainda em branco.
A formiga vai traçando
um sinal de vida.

Delores Pires
In: O Livro dos Haicais

TOM

TOM

 Ao amanhecer
o sol desponta no morro
colorindo o dia.

Delores Pires
In: O Livro dos Haicais

EÓLICA

EÓLICA

No calor da tarde
o vento, à busca de abrigo,
debruça a janela.

Delores Pires
In: O Livro dos Haicais

BUCOLISMO

BUCOLISMO

Por sobre coqueiros
no alto, a nuvem dá salto.
Cochilam pinheiros

Delores Pires
In: O Livro dos Haicais

BUENOS AIRES

BUENOS  AIRES

Os céus salpicados
de estrelas como centelhas
nos teus ares mágicos.

Delores Pires
In: O Livro dos Haicais

PRIMAVERA

PRIMAVERA

Voa no jardim
o pardal junto à roseira.
Chuva cor-de-rosa.


Delores Pires
In: O Livro dos Haicais

TURISMO

TURISMO

Em cima do poste
serve a lâmpada de guia
ao turista, à noite.

Delores Pires
In: O Livro dos Haicais

ENCANTO

ENCANTO

Doce encantamento:
o mundo, o carinho, a paz
cabem num braço.

Delores Pires
In: O Livro dos Haicais

Acredito que...

“... E de novo acredito que nada do que é importante se perde verdadeiramente.
Apenas nos iludimos, julgando ser donos das coisas, dos instantes e dos outros.
Comigo caminham todos os mortos que amei, todos os amigos que se afastaram, todos os dias felizes que se apagaram.
Não perdi nada, apenas a ilusão de que tudo podia ser meu para sempre."

Excerto de 'De noite'
- Miguel Sousa Tavares
em “Não te deixarei morrer David Crockett"