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Só quem sofreu durante muito tempo
poderá escrever um poema de amor.
Chega o dia em que o som do vento
e a febre das folhas que vão caindo
já não trazem desgraça, apenas o sussurro,
a perdição amável de quem vive
a sombra e o verão. Assim viajo
até ao voo derradeiro
para dentro da pedra — um ovo!
E voar de novo, “à barca, à barca (…) oh, que maré
tão de prata!” — e cantar de novo,
de pedra em pedra, de ovo em ovo.
Faça-se então
o ofício da dor. Talvez me seja dado
um poema de amor.
Casimiro de Brito
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