O ator tupiniquim,
que outrora fez grandes papéis,
precisa agora de uns mil-réis demais.
O teatro rasteja e, ora veja,
ele tenta as engrenagens da TV.
Faz teste pra ser rei.
Faz teste pra ser um grosso.
Pra ser fora-da-lei.
Pra ser bom moço.
E embora não passe em nada (ó sofrimento),
seu talento é inconteste, dizem; sim.
E só ausência é o seu bolso.
O ator tupiniquim.
O ator tupiniquim
vê filme com James Dean
que é um jeito de gritar socorro! no
fundo do poço.
Por fim,
num programa mirim,
ele faz teste pra ser cachorro:
negam-lhe o osso.
O ator tupiniquim,
entre Hamlet e Rin-Tin-Tin,
é lançado enfim aos cães
como carne de pescoço.
Jorge Emil
De 'O dia múltiplo'(2000)
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