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segunda-feira, 18 de outubro de 2010

322


322

Só quem sofreu durante muito tempo
poderá escrever um poema de amor.
Chega o dia em que o som do vento
e a febre das folhas que vão caindo
já não trazem desgraça, apenas o sussurro,
a perdição amável de quem vive
a sombra e o verão. Assim viajo
até ao voo derradeiro
para dentro da pedra — um ovo!
E voar de novo, “à barca, à barca (…) oh, que maré
tão de prata!” — e cantar de novo,
de pedra em pedra, de ovo em ovo.
Faça-se então
o ofício da dor. Talvez me seja dado
um poema de amor.


Casimiro de Brito

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Acredito que...

“... E de novo acredito que nada do que é importante se perde verdadeiramente.
Apenas nos iludimos, julgando ser donos das coisas, dos instantes e dos outros.
Comigo caminham todos os mortos que amei, todos os amigos que se afastaram, todos os dias felizes que se apagaram.
Não perdi nada, apenas a ilusão de que tudo podia ser meu para sempre."

Excerto de 'De noite'
- Miguel Sousa Tavares
em “Não te deixarei morrer David Crockett"